A falta de pinheiros ameaça deixar em maus lençóis empresas do sector da madeira da região, alerta Carlos São Martinho (presidente da distrital do PSD Castelo Branco). Apesar de não apresentar números concretos, garante que os relatos que os empresários lhe fazem “são muito preocupantes”.
“É irónico, mas há empresas da região do Pinhal Interior que chegam a ter que importar de Espanha e França metade da madeira de pinho que usam como matéria-prima”, descreve. O social-democrata não tem dúvidas em pedir a intervenção do Governo, sobretudo para que haja maior fiscalização e se possa travar o abate de pinheiros na região e sua substituição por eucaliptos. Critica também algumas opções do Estado em matéria de gestão florestal.
Entre elas, questiona a venda de propriedades ao grupo Altri pela empresa pública Lazer e Floresta (do grupo Portucel). “É um exemplo grave. Os terrenos incluem centenas de hectares de pinhal que está a ser abatido para a indústria da celulose e esse risco paira sobre inúmeras outras propriedades”, sublinha.
ALERTA NO SECTOR
Também na comemoração dos 50 anos da Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), em Dezembro de 2007, o presidente Fernando Rolin classificou a falta de matéria-prima como uma situação bastante grave, capaz de “levar ao encerramento de empresas e ao aumento do desemprego, se nada se fizer”, referiu à Agência Lusa. Segundo o inventário florestal nacional na altura destacado, houve um recuo de 27 por cento da área coberta pelo pinho. Desde 1998, o número de unidades de serração em Portugal caiu de 732 para 290, acrescentou.
EFEITOS COLATERAIS
João Paulo Catarino (PS), presidente da Câmara de Proença-a-Nova, no coração da região do Pinhal, refere que “o que se passa são as leis de mercado a funcionar, mas o regulador Estado tem que intervir”. “O problema está na falta de fiscalização”, referiu João Paulo Catarino, que vê com preocupação a escassez de matéria-prima para a indústria. “A fileira florestal é muito importante para esta região e os seus problemas trazem inúmeros fenómenos associados, como a desertificação e o desemprego”, refere.
Apesar das tentativas, não nos foi possível obter esclarecimentos do grupo Altri em Castelo Branco, nem da secretaria de Estado das Florestas.
Alguns dos terrenos vendidos
A empresa pública Lazer e Floresta vendeu no último ano 1490 hectares de terrenos no distrito de Castelo Branco ao grupo Altri, dos quais 1049 eram povoados com pinheiro bravo. São um dos exemplos que “merecia outra gestão” apontados pela Distrital do PSD.
Segundo Catarino Costa, administrador da empresa, “houve mais interessados nos terrenos, incluindo empresários do sector madeireiro, mas a proposta vencedora estava 15 por cento acima do segundo concorrente e bastante acima das outras propostas individuais”, acrescenta.
“Não me compete fazer comentários quanto ao uso que os novos donos lhes darão”, refere, ressalvando que “os terrenos eram de uma empresa de celulose e agora serão de um empresa da mesma área de actividade”.
Para Carlos São Martinho, a proveniência não importa. “O que interessa é, face ao cenário actual, o Governo assumir uma posição política em defesa do pinhal”.
“As serrações e fábricas de produtos de madeira no Pinhal suportam custos adicionais da matéria-prima importada e seu transporte. Não admira que alguns decidam fechar portas ou deslocalizar-se”
Carlos São Martinho,
presidente do PSD Castelo Branco
“As pessoas normalmente substituem o pinheiro por eucalipto e fazem muitos mais cortes prematuros, tudo em busca de mais rendimento, um problema que temo que se agrave quando as centrais de biomassa começarem a funcionar”
João Paulo Catarino,
presidente da Câmara de Proença
(por: diário XXI)