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Passadas as emoções que o Natal e a entrada do Ano Novo sempre proporcionam, vamos, ainda que de soslaio, olhando para o calendário, tentando descobrir quais são os dias que, lá para o mês de Fevereiro, nos abrirão as portas da folia, possibilitando a todos os fiéis seguidores de D. Entrudo esquecer tristezas, enxaquecas e toda a espécie de pequenas maleitas.
Por esse mundo fora muitos são os sítios onde aqueles seguidores dão asas à sua magia, transfigurando-se em personagens que têm na excentricidade o denominador comum, vivendo-o cada localidade, segundo as suas tradições, ou, como infelizmente se vai vendo um pouco por todo o lado, segundo imitações dos modelos adoptados pelos nossos irmãos brasileiros.
Penso que o Carnaval deverá ser um tempo onde os que têm predisposição natural para o viver hão-de contagiar com alegria todos os circundantes, por forma a fazer despontar nos rostos mais macambúzios um pequeno sorriso; deverá ser um tempo em que, de forma irónica, se abordam as questões que se destacam no âmbito da nossa preocupação colectiva; deverá ser sempre um tempo de crítica social, a exemplo do que acontecia com a partilha do burro, em sentido figurado, feito em quinta feira de comadres, a altas horas da noite, por compadres anónimos que, fazendo-se ouvir através dum funil, legavam as partes menos desejadas do animal às pessoas menos gratas; será sempre um tempo de convívio. como o eram os bailes trapalhões da Casa do Povo em que um bairro convidava outro bairro ou os “assaltos” a residências em que os foliões esvaziavam as despensas das casas que lhes estavam em mira, deverá ser um tempo onde, segundo a sabedoria popular, nada parece mal, acautelando-se, no entanto, a percepção de que há limites que não podem ser ultrapassados e que não se pode querer ter piada ferindo ou pondo em causa a honorabilidade de terceiros.
No nosso concelho vem sendo tradição, há já alguns anos, que bairros, lugares, grupos e freguesias se mobilizem para participar no corso carnavalesco organizado e apoiado pela Câmara Municipal, na perspectiva de ser um cartaz turístico de dimensão regional, capaz de atrair um elevado número de visitantes, objectivo que nem sempre é alcançado.
É que se pensamos no Carnaval em termos turísticos, então temos de investir mais na qualidade dos carros e dos grupos, para não se correr o risco de aparecer um cortejo alegórico; temos de apostar mais na animação, para não se cometer o erro de se colarem duas fanfarras, de termos majoretes que só o são no nome, e figurantes desenquadrados; temos de alargar o programa por forma a haver espaço para a recepção ao Rei Momo; temos de conferir dignidade ao desfile dos alunos das escolas dando-lhe animação e a presença de suas altezas reais, temos de privilegiar os momentos de convívio e partilha e temos de agilizar e tornar perceptível a lista dos bens que aquele soberano decidiu legar a alguns dos seus súbditos. A uma melhoria do acontecimento há-de corresponder, naturalmente, um acréscimo de espectadores, que corresponderá, necessariamente, a um aumento da actividade comercial pelo que o dinheiro gasto não foi um custo, mas antes um investimento com pleno retorno
Se formos cidadãos activos, criativos, participativos, tolerantes e trouxermos a alegria para a rua, temperada com algum investimento, regada com uma boa organização e misturada com um pouco de ironia, teremos, garantidamente, um Carnaval entusiasta, onde todos vão querer estar e onde todos se vão sentir bem.
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Caso contrário teremos, apenas e só, mais um corso.
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