Saul Neves, construtor civil de Santiago da Guarda, Ansião, estranhou a chamada telefónica que recebeu da Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS) no passado dia 25 de Junho. Do outro lado da linha perguntaram-lhe se teria utilizado o seu cartão Multibanco em algum "terminal pouco credível". Pouco familiarizado com o que poderia significar esta expressão, respondeu que nos últimos tempos havia utilizado apenas as caixas Multibanco habituais nos concelhos de Ansião, Figueiró dos Vinhos e Soure, sua área de actividade profissional.
O contacto terminou sem mais explicações. Só três dias depois percebeu o motivo da chamada telefónica. Ao conferir o extracto bancário constatou que havia sido feito um levantamento de 200 euros da sua conta a partir de um terminal bancário no estrangeiro, presumivelmente na zona da Andaluzia, em Espanha. O seu cartão de débito foi um dos muitos clonados através de um mecanismo ilícito instalado num terminal de pagamento na zona Norte do distrito de Leiria, presumivelmente em Figueiró dos Vinhos.
Outra das dúvidas que ainda se colocam à investigação é o número de cartões que terão sido copiados. O inspector da Polícia Judiciária da Directoria de Coimbra, Almeida Rodrigues, referiu "algumas dezenas", levantando a hipótese de haver uma "conexão com a prisão em Abril passado de um indivíduo de Leste". Nesse caso, deverá tratar-se de uma rede de falsificadores uma vez que os levantamentos foram feitos massivamente dois meses depois da detenção, exactamente no passado dia 22 de Junho, utilizando cartões copiados de, pelo menos, quatro instituições bancárias diferentes.
Segundo a investigação entretanto realizada, a clonagem de cartões ocorreu nos últimos dias de Novembro e primeiros dias de Dezembro do ano passado, presumivelmente a partir de um terminal de pagamento de um posto de combustíveis de Figueiró dos Vinhos.
Instituições bancárias deram o alerta em poucas horas.
Os autores do crime terão deixado passar todos estes meses até actuarem, pensando que o sistema não detectaria a fraude, mas o volume de movimentos realizados de uma só vez fez soar as campainhas de alerta na UNICRE E SIBS, entidades gestores dos cartões electrónicos. "Nestes casos as medidas são tomadas em poucas horas e os cartões cancelados", explicou um responsável pelo sistema, gacrescentando que todas as instituições financeiras afectadas foram imediatamente contactadas, garantindo a reposição das verbas nas contas dos depositantes.
De quatro instituições com balcões em Ansião foram cancelados cerca de 250 cartões. Terão sido tomadas medidas semelhantes em relação a cartões emitidos em Pombal, Alvaiázere e Figueiró dos Vinhos. O DIÁRIO AS BEIRAS sabe que cerca de 30 clientes da Caixa Geral de Depósitos sofreram prejuízos com intrusão ilícita nas suas contas, quase sempre com levantamentos de 200 euros, o máximo permitido por dia. Fonte oficial da instituição garante que "caso o cliente se sinta lesado deve contactar-nos, que depois de feita a devida averiguação, o dinheiro será devolvido". Por isso, a mesma fonte considerou "irrelevante" a queixa no posto da GNR porque a situação será comunicada directamente às autoridades policiais. Assim se justifica o baixo volume de participações registadas na GNR de Ansião; apenas três ontem à tarde e uma em Alvaiázere.
Atendendo ao número de casos deste tipo que têm surgido, a SIBS aconselha a que "confira regularmente o seu extracto de conta bem como os movimentos do cartão. Se detectar movimentos que não realizou, contacte imediatamente o seu banco", acrescentando que "para um criminoso, o seu cartão e os dados que lhe estão associados têm o mesmo valor que o dinheiro. Aplique, portanto, ao seu cartão e aos restantes dados de identificação pessoal os mesmos cuidados com que manuseia o dinheiro".