Crise. Quantas vezes você já ouviu esta palavra nos últimos 30 anos?! Certamente muitas, mas será que já sentiu os seus efeitos, talvez não!
É velha a ideia de que Portugal está sempre em crise, ouvimos esta palavra, juntamente com o famoso apertar de cinto, vezes e vezes sem conta, estão-nos sempre a apregoar que desta vez é que o cinto ajustou ao máximo, contudo, de ano para ano, a crise continua e os apertares de cinto são sucessivos, mas terá esta crise realmente chegado ao bolso dos portugueses?! A pergunta é peremptória, quanto à resposta, apesar de poder suscitar maior dúvida, a que mais se aproxima da generalidade dos portugueses é o NÃO. Não, os Portugueses ainda não sentiram a crise, continuam a fazer exatamente a mesma vida que sempre fizeram, e porquê?! Porque na realidade os portugueses não têm tido perda do poder de compra nos últimos 3/4 anos como tanto se apregoa, pelo menos a maioria. Se bem se recordam há 3 anos atrás as taxas de juro para os empréstimos habitação estavam altíssimas, a rondar os 4%, hoje em dia andam próximas dos 1%, a quantidade de pessoas que tem um empréstimo na banca para compra de casa é de cerca de 2 Milhões de Portugueses, se a estes 2 Milhões somarmos outros tantos (dependentes, filhos, …) temos cerca de 4 Milhões de portugueses que até ver só têm a agradecer a chegada da crise, uma vez que viram o seu rendimento mensal incrementado (tendo por base o decréscimo da prestação mensal que têm de pagar pelo empréstimo habitação).
O problema é que estes 4 Milhões de Portugueses, em vez de pouparem o rendimento extra mensal que auferem por mês graças à baixa das taxas de juro, continuam a querer fazer a vida que sempre fizeram, com férias à grande, comprando o último modelo de automóvel, a ir regularmente ao shopping gastando dinheiro em banalidades e comendo fora todos os dias. Pois bem, para estes portugueses a crise CHEGA EM 2011 e irá prolongar-se, podendo mesmo acentuar-se se houver uma subida das taxas de juro.
Portugal vai entrar em 2011 num dos piores anos de sempre da sua história mais recente, a crise global combinada com as políticas de austeridade prometidas pelo Governo vão atirar Portugal para uma recessão em 2011 (com uma quebra estimada de 1% do PIB) e empurrar o desemprego para níveis históricos. Os ordenados do privado vão estagnar, perdendo poder de compra, e o corte na massa salarial no sector público será superior a 11%, o mais violento de sempre e o maior dos 27 países da União Europeia (UE).
Estas são algumas das más notícias ontem ventiladas pela Comissão Europeia, no relatório das previsões de Outono.
Os portugueses vão empobrecer (cada português tornar-se-á no oitavo mais pobre dos 27 em 2012, já ajustado pelas paridades de poder de compra de cada país), enfrentarão quatro anos consecutivos de destruição de emprego e verão assistir a uma subida da taxa de desemprego para 11,1% em 2011 e 11,2% em 2012.
É nos salários que o impacto é maior, sobretudo ao nível da função pública: o ordenado médio real dos trabalhadores portugueses (já descontado da inflação) deverá cair 3,5% em 2011, o pior valor de toda a UE. É preciso recuar até aos anos do segundo plano de ajustamento do Fundo Monetário Internacional (FMI), a 1983 e 1984, para encontrar uma degradação superior (-5,7% e -9,2%, respectivamente).
Apesar do empobrecimento em larga escala, Bruxelas alerta que Portugal falhará o ambicioso plano de redução do défice público prometido. Considera que o país precisa de mais medidas de austeridade para evitar a derrapagem: o Governo defende que o défice vai melhorar dos 7,3% do PIB este ano, para 4,6% no próximo e 3% em 2012; Bruxelas arrasa esta previsão, dizendo que a economia vai fraquejar e a factura com juros explodir. Para Bruxelas, o desequilíbrio das contas públicas vai, afinal, chegar a 4,9% e subir até 5,1% em 2012. Os mercados não gostaram e a taxa de juro da dívida pública continua a subir.